quarta-feira, 6 de julho de 2011

Do site do PSTU

O MOVIMENTO NO BRASIL

"Em 1977, os estudantes tomavam as ruas para exigir a anistia dos presos e exilados políticos. Era o começo do fim da ditadura. A retomada do ascenso fez com que diversos setores da sociedade buscassem se organizar. A imprensa "alternativa" se multiplicou rapidamente. E os setores oprimidos e explorados da sociedade exigiam seu espaço. Em meio à este processo surgiu o jornal Lampião de Esquina, com o objetivo de enfocar a luta de todos os chamados "setores oprimidos" (mulheres, negros, índios e homossexuais) mas que, na prática, era quase que totalmente voltado para a comunidade homossexual. A idéia inicial de lançamento do jornal "nasceu" com a visita de um jornalista gay norte-americano, Winston Leyland, que veio à América Latina, no final de 1977, para recolher material para escrever uma antologia sobre a produção literária de autores homossexuais. Sua visita acabou desencadeando a reunião de um grupo de jornalistas, escritores e intelectuais responsável pelo lançamento do número zero do jornal em abril de 1978.

Além do surgimento do Lampião, outros fatores iriam contribuir para a formação do primeiro movimento homossexual brasileiro. Também em abril de 78, entre os dias 24 e 30, a revista Versus promoveu um ciclo de debates denominado "Semana do Movimento da Convergência Socialista", cujo o objetivo era elaborar a plataforma política de um futuro Partido Socialista Brasileiro. Durante estes debates um "incidente" provocado pela não convocação do Lampião, acabou resultando em uma intensa discussão sobre o relacionamento entre a esquerda e os homossexuais. A grande importância desde debate foi que ali se deu a primeira discussão pública sobre a homossexualidade e seus aspectos políticos.

Após este debate um grupo integrado por dois editores do Lampião, e outro homossexuais fundaram o Núcleo de Ação pelos Direitos Homossexuais, que apareceu à público pela primeira vez para denunciar a forma preconceituosa como o jornal Notícias Populares tratava os homossexuais. Em dezembro de 78, o grupo passa a adotar o nome de SOMOS - Grupo de Afirmação Homossexual. E em fevereiro de 1979, após a participação em um ciclo de debates na Universidade de São Paulo, o SOMOS cresceu significativamente, reunindo cerca de 100 homossexuais (aproximadamente 80 homens e 20 mulheres).

Desde sua fundação, um setor do SOMOS havia privilegiado uma atuação estreitamente ligada aos setores oprimidos da sociedade, as mulheres e os negros (apesar de que nem sempre tenha havido reciprocidade nesta tentativa). A primeira aparição pública do SOMOS, em uma mobilização, se deu no dia 20 de novembro de 1979 (Dia de Zumbi dos Palmares, ou Dia Nacional da Consciência Negra), em uma passeata convocada pelo Movimento Negro Unificado. Nesta passeata os ativistas do SOMOS portavam uma faixa onde se lia "Pelo fim da discriminação racial - SOMOS - Grupo de Afirmação Homossexual."

FONTES:

Dyer, Richard, "Now you see it: Studies on Gay and Lesbian Films", London, Routledge, 1990.

Lima, Delcio Monteiro, "Os homoeróticos", RJ, Francisco Alves, 1983.

MacRae, Edward, A construção da Igualdade: Identidade Sexual e Política no Brasil da "Abertura", Campinas, Editora da Unicamp, 1990.

Mantega, Guido (coord), Sexo e Poder, SP, Brasiliense, 1979

Míccolis, Leila & Daniel, Herbert, Jacarés e Lobisomens: dois ensaios sobre a homossexualidade, RJ, Achiamé, 1983

Okita, Hiro, Homossexualismo: da Opressão à Libertação, SP, Proposta Editorial, 1981.

Perlongher, Nestor, O Negócio do Michê, SP, Brasiliense, 1987

Trevisan, José Silvério, Devassos no Paraíso: a homossexualidade no Brasil, da Colônia à atualidade, SP, Max Limonad, 1986.

Nenhum comentário: