sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Raquel Pacheco

Eu tenho claustrofobia, não consigo ficar num lugar fechado sabendo que não poderei sair, no momento em que eu quiser. Me dá agonia, falta de ar e, muitas vezes a minha pressão caí de tanto nervosismo.

Eu nunca moraria no último andar de um prédio. Alguns exemplos básicos e que tenho que enfrentar, querendo ou não, é estar dentro de avião ou de elevador. Por um lado é bom, porque acho importante "enfrentarmos" o que nos dá medo.

Mas os meus medos não param por aí, tenho medo também de escuro. Já este medo, "herdei" da infância. Não fico num lugar fechado e escuro nem que me paguem! E olha que, para uma ex-prostituta não aceitar esta "oferta", é porque realmente o medo é grande! Sei que fiz coisas muito piores na prostituição, coisas que nem eu sei como tive coragem. Mas passar por uma situação como essa que citei agora há pouco... digo que: nem à pau!

Tive que encarar muitos sacos fedidos mas, sempre com muita claridade.

(Blog de Raquel Pacheco, www.brunasurfistinha.com, 19 de julho de 2006)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fernão Cabral

Uma última palavra sobre a vida amorosa de nosso personagem, esta sim alusiva a certa peculiaridade de Fernão. Refiro-me a seu hábito de dizer as palavras da consagração na boca das mulheres durante o ato sexual, Hoc est enim corpus meum, expressão por meio da qual a Igreja ritualizava a presença do corpo de Cristo na hóstia (aqui está o meu corpo).

Disse peculiaridade de Fernão porque, na verdade, este era um costume muito difundido entre as mulheres, sendo raro entre os homens, inscrito no universo mágico-erótico das "cartas de tocar", das beberagens afrodisíacas, das orações amatórias, das mezinhas e filtros que as mulheres soíam utilizar para arranjar ou amansar maridos. As palavras da Sacra possuíam exatamente, segundo se acreditava na época, este poder de "prender a criatura desejada", "fazê-la cumprir a vontade de quem as proferia" e, sobretudo, de evitar maus-tratos.

(A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial, Ronaldo Vainfas, Cia das Letras, 1995)