segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cassandra Rios


Hanna Korich fez o documentário “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes”. Com o apoio do Programa de Ação Cultural 2012, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, o filme tenta reposicionar Cassandra Rios no cenário literário, político e social como uma verdadeira desbravadora que foi e as consequências que estas posturas tiveram em sua vida.

Leia abaixo a entrevista feito pelo Blogay com Hanna Korich e o teaser inédito do filme.

Blogay – O que te atraiu no tema Cassandra Rios?

Hanna Korich - Eu sou uma lésbica cinquentona e gosto muito de livros. Descobri Cassandra Rios tardiamente, infelizmente. Passei a ler seus livros, que só consegui comprar em sebos, e me tornei sua fã. Fiquei escandalizada com o desconhecimento por parte da “moçada” sobre a Cassandra, principalmente das lésbicas com menos de 40 anos. Cassandra chegou a vender mais de um milhão de livros nos anos 60 e 70, mais do que Jorge Amado, que a considerava grande romancista e que foi ignorada por puro preconceito! Ela foi a primeira escritora brasileira a mostrar a mulher como ser sexual, com desejos próprios e libido, e foi pioneira em retratar as lésbicas nas letras brasileiras (publicou seu primeiro livro aos 16 anos de idade, em 1948!). Daí que resolvi abordar o tema Cassandra como um verdadeiro tributo à autora pela sua importância na literatura lésbica, seu pioneirismo, ousadia e, principalmente, para que as novas gerações saibam quem ela realmente foi.

Você chegou a conhecê-la? Como as pessoas que a conheciam descrevem Cassandra?

Infelizmente não a conheci, apesar de ter sido vizinha da Cassandra por 11 anos. Descobri durante a pesquisa para o documentário que Cassandra morava na mesma rua que eu morei na Vila Buarque, centro de São Paulo (eu morava no número 254 e Cassandra no 284), mas não me lembro de ter cruzado com ela. Todas as pessoas que a conheceram declararam que Cassandra era gentil, extremamente educada e discreta, inteligente, ousada, culta, lutadora, bem humorada, namoradeira e sempre dizia que a vida dela se resumia a escrever. Aliás, ela adorava escrever, publicar seus livros e saber que eram lidos por um grande número de pessoas, homossexuais ou não.

Por que a decisão de fazer um filme (e não um livro, por exemplo) sobre a escritora? Qual a linguagem que você usa no filme para descrever Cassandra (depoimentos, imagens de arquivos…)?

Decidi pelo DVD porque, infelizmente, depois de 5 anos trabalhando com Laura Bacellar na Editora Brejeira Malagueta, a única editora lésbica da América Latina, criada em 2008, cheguei à conclusão de que apesar de termos no Brasil 9 milhões de lésbicas, elas compram poucos livros, não se sabe a razão exatamente. Concluí que através de imagens seria mais fácil atingir o meu objetivo de tornar Cassandra Rios conhecida pelas novas gerações, afinal, estamos na era das imagens, certo? Com relação à linguagem, o documentário/tributo tem depoimentos, fotos de arquivos cedidos pela família da autora, imagens de objetos pessoais, capas de seus livros e outras imagens relacionadas ao tema LGBT, além de uma trilha sonora belíssima feita por Laura Finocchiaro.