terça-feira, 31 de agosto de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ela é MINHA filha

"Quando Fernanda chegou em casa, eu estava entre caixas de lápis, papéis riscados e revistas recortadas, catando os retalhos de papel enroscados no tapete, sobras do meu esforço pra Olívia se acalmar e dormir. Fernanda sentou no sofá e comentou:

- Mais uma batalha sangrenta?

Olhei pra ela, de joelhos, com a mão cheia de papel picado, e comecei a chorar. Ela continuou no sofá: fazia tempo que não discutíamos sobre isso. Fazia tempo que não discutíamos, aleluia, evitando engenhosamente a questão. Eu me debatia sozinha e ela ignorava com elegância. Seu desprendimento agora me dava inveja:

- Eu não sei desenhar! - disse eu, soluçando. - Não sei contar historinha. Não sei fazer nada engraçado!

Fernanda riu. Eu ainda estava ajoelhada, segurando restos de papel. Fernanda esticou a perna, tranquila, brincando com minhas coxas.

- Devolve a menina pra sua mãe. Deixa elas serem felizes.
- Mas ela é MINHA filha.
- Justamente. Poupe a coitada da sua incompetência."

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A mãe do Frederico

Quando minha filha nasceu, eu morava no centro, num prédio encardido, dividindo apartamento com um músico experimental vegetariano, de bom coração mas insuportavelmente devagar. Meu salário cobria o aluguel e a faculdade, eu tinha vinte e seis anos e sabia que não me formaria nunca se não levasse aquele curso atá o fim. A mãe do Frederico se ofereceu para cuidar do bebê, mas eu me irritava com seu olhar siderado, abraços excessivos, afetiva demais. Também considerava minha mãe mais confiável: ela devolveria a menina, sem drama, quando eu tivesse um lugar decente pra instalar uma criança.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Novos capítulos

Reorganizei o planejamento do livro. Desfiz a sequência linear, cortando ligações desnecessárias de causa e consequência. Separei os capítulos por tema, deixando apenas os momentos interessantes (seguindo Diderot).

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1. Minha mãe é minha avó

A filha de Caroline tem seis anos, e mora com a avó em Osasco.
Caroline tem um emprego razoável, quer trazer a filha para sua casa.
A filha não quer: sua mãe é sua avó. Caroline é apenas uma amiga.

2. Depressão e gravidez

Caroline, grávida, cuida de Fernanda em crise de depressão,
depois de tentativa de suicídio.
(capítulo 1 antigo)

3. Tentativa de normalidade

Quando descobre que está grávida, Caroline e Fernanda se reaproximam.
Tentam organizar uma vida normal: morar juntas, criar a criança.
Caroline faz curso de judaísmo, para que a filha tenha alguma educação religiosa.
Descreve suas impressões nas aulas e na sinagoga.
Questão de Deus: o que é isso.

4. Festa da congregação


Caroline e Fernanda se conheceram numa festa.
Fernanda estava com seu grupo de amigas lésbicas e ricas (a congregação).
Na festa, várias seduções paralelas. Fernanda se droga, fica exageradamente expansiva.
Jogo entre dominante e passiva.

5. Doença de Fernanda


Início de namoro.
De repente, Fernanda fica deprimida, Caroline não imagina que seja doença.
Caroline presencia um surto: o discurso aos poucos caminha para o delírio.
Remédios: descrição da doença nos manuais de psiquiatria.

6. Procura do apartamento

Depois de descobrir a doença: Caroline tem um novo emprego, procura lugar para morar.
Diferença de classe social entre Caroline e Fernanda.
(adaptação do conto "malandragem").

7. Fica longe de mim

Fernanda vai e vem, Caroline se cansa.
As duas brigam. Caroline não quer ver a outra, se não puder confiar.

8. Amor de Frederico

Distante de Fernanda, Caroline se aproxima de Frederico.
Saem juntos, dormem juntos.
Uma noite Caroline, quase dormindo, sente a ereção dele.
Ela aceita. Eles transam durante algumas semanas.

9. Lesbianismo

Caroline descreve suas sensações com mulheres e rapazes.
Lenta percepção na adolescência, ambiguidade.

10. Decisões sobre a criança

Fernanda não quer assumir a criança.
Caroline planeja deixar a filha com a mãe, enquanto trabalha e estuda.
A mãe de Frederico pede DNA. Quando sai o resultado positivo, propõe cuidar da criança.
Caroline diz que a sogra tem dinheiro, porém trabalha. A menina ficaria o dia todo na escola.
A mãe de Caroline não trabalha: pobre, tem mais tempo a dedicar.

11. Paz espiritual

A paisagem de Osasco.

sábado, 7 de agosto de 2010

Karine e a Hortência

Eu poderia querer o que não conhecia? Tinha umas machonas na minha escola, quando eu estava na oitava série. Eram as garotas que andavam com Celeste - a Hortência, como a gente chamava. Ela jogava basquete num clube em São Paulo, muito mais alta que todos nós, inclusive os garotos. Estava sempre com roupas do time; passavam o intervalo na rua, sentadas nos carros e conversando entre elas. Depois saíram da escola e ficaram só as garotas normais.

Eu tinha amigas mas não sentia entusiasmo por nenhuma. Minha paixão secreta continuava perdida no primário, quando eu era muito pequena para considerar um sentimento muito muito forte de amizade como algo mais que isso. A lindinha Karine, amiga adorada na segunda série, que voltou com os pais para Sergipe e nunca mais revi.