sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Materialismo dialético das lésbicas (novo início)


A cidade é grande e existem momentos em que você quer apenas conhecer alguém novo, cuja idade, origem, história e relações sejam totalmente diferentes dos seus. Começar em branco, como se fosse outro país.

Existem muitos caminhos para conhecer pessoas pela internet, eu prefiro os mais distantes e controlados. Um anúncio simples: "Mulher, 38 anos, com gosto por arte e livros, procura amiga lésbica e solteira para sair à noite, conversar e olhar as pessoas." Preferiria não mencionar arte e livros, para evitar o pedantismo, mas há pessoas que se interessam prioritariamente por negócios e esportes, e aprendi por experiência que é melhor especificar.

Olho anúncios em tempo contado, meia hora por dia, de manhã geralmente, raramente à noite. É como caçar, preciso atenção para farejar um potencial objeto de interesse na imensidão de bobagens. Leitura rápida dos perfis, em navegação aleatória; sem priorizar fotos (pessoas bonitas frequentemente se escondem); protegendo-me da falsa esperança de boas surpresas a partir de um perfil medíocre. Se ao fim de meia hora não encontro algo estimulante, arrisco um contato neutro em três ou quatro perfis de informações insuficientes (o excesso de banalidade nunca é desmentido; a brevidade pode indicar inteligência).

Um perfil sem foto, certo dia, mostrava apenas uma frase em inglês: "Are you my mother?" Outras informações sucintas: mulher, 25 anos, terceiro grau incompleto, signo câncer. Poderia ser uma órfã estrangeira perdida no país. Ou, com otimismo, poderia ser uma jovem intelectual e militante, atualizada sobre o lançamento recente nos Estados Unidos do segundo livro de uma conhecida desenhista lésbica de esquerda. Um código, ou laconismo carente. Enviei uma mensagem: "Olá. Se quiser escrever, meu endereço é (...)". Meu email, para esse tipo de atividade, é o nome de um grupo lésbico-feminista de São Paulo na década de 1960, As Graciosas.

Recebi a resposta alguns dias depois. Apenas uma linha: "Oi, tudo bem?"

Naquele dia, seu email competia com a longa apresentação de uma secretária de universidade privada, jovem e redondinha, que nunca tinha saído com mulheres mas tinha muita curiosidade, e as cobranças de uma senhora casada a quem eu dissera não me interessar, que insistia num primeiro encontro alegando ser injusto que eu não me interessasse apenas baseada em uma foto e três emails.

Curiosamente, para muita gente na internet dizer "amiga" ou "amizade" é um eufemismo aceitável para sexo casual. Enquanto as palavras "sexo casual", ao contrário, assustam as mulheres, atraindo geralmente casais em busca de uma parceira para encontros a três.

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