segunda-feira, 23 de março de 2009

Mon plaisir, ainda

Naquela noite ele quis mamar, então levantei minha camisola. Eu não preciso fazer nada, meu peito tá logo ali, ele chupa. Isso sempre me faz sentir tristeza e sede. Mas elas são invertidas; a sede tem a profundidade e o tom que a tristeza deveria ter: é sede como uma dor, um lamento, um soluço. E a tristeza é pateticamente limitada ao nível da sede, é só um gole de emoção, muito encolhido num franzir de rosto, saciável. É provável que essas sensações se resolvam de um jeito lógico quando há leite no peito. Pude sentir a ereção de Carl contra meu joelho, mas esperei e, depois de um tempo, ela acabou. Ele se separou do mamilo e ficamos ali deitados na semi-escuridão que me acostumei a considerar nossa.

(trecho do conto "Mon plaisir", de Miranda July)

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