domingo, 15 de fevereiro de 2009

Hanif Kureishi

Em suas obras, o desejo masculino é quase sempre uma força destrutiva e perigosa, inteiramente divorciada do amor ou do afeto. Em "Tenho Algo a Te Dizer", um personagem diz: "Amar uma pessoa, ou mesmo gostar dela, nunca melhorou em nada o prazer sexual". Kureishi concorda? Ele faz uma pausa. "Isso é uma provocação, mas uma provocação na qual existe muito de verdade. Pode ser que sexo seja agressão, e, se você não se importa com a outra pessoa, isso intensifica a experiência."

Quando Kureishi era jovem, uma das ideias que o moviam era a crença no grande extravasamento libidinal coletivo da revolução sexual. Achava que, se o sexo fosse libertado das convenções e restrições, todos nós seríamos mais felizes. Apesar disso, hoje ele acha que errou ao pregar o mantra do tantra. "Estou desiludido com o sexo. Se você olha para "O Buda do Subúrbio", um mundo não reprimido parece uma perspectiva muito agradável." Mas agora isso aconteceu -e "desumanizou as pessoas".

Kureishi diz que o sexo hoje "geralmente não passa de uma maneira de usar outras pessoas. Pode ser profundamente prazeroso transar com alguém e não se importar com quem é a pessoa ou o que ela é. Se você tivesse crescido nos anos 1950, como eu, transar dessa maneira teria parecido uma rebelião". "Parecia algo muito libertador. Mas, nos anos 1980 e 1990, a sexualidade virou algo muito instrumental. Você simplesmente usa outras pessoas para se masturbar. E não há relacionamento nenhum. E tudo isso simplesmente me parece narcísico, vazio, sem valor. Nos anos 1950 a gente reprimia o sexo; hoje reprimimos o amor."

(artigo de Johann Hari, Folha de São Paulo, caderno Mais, 15/2/2009)

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