(FSP, 25 out. 2011)
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Fantasias sexuais não servem só ao prazer: curam, na teoria do psicólogo americano Stanley Siegel, 64, que acaba de lançar nos EUA "Your Brain On Sex" (como a sua mente influencia o sexo), fruto de pesquisas com clientes em 36 anos de clínica.
Siegel, ex-professor das universidades da Califórnia e do Estado de Nova York, chama de "luxúria inteligente" o método no qual o paciente conecta seus devaneios sexuais com culpas e carências do passado e fica apto a encontrar o parceiro "certo" para a realização dessas fantasias.
Folha - O que quer dizer "luxúria inteligente"?
Stanley Siegel - É o processo que identifica quais são nossas fantasias, conflitos relacionados a elas e como usá-las para achar o relacionamento certo. São seis passos. Vão da reflexão sobre o que nos excita à concretização da fantasia com alguém compatível. Essa compatibilidade ocorre quando seus desejos sexuais complementam os do parceiro e você os representa com alguém em quem confia.
Como o sexo cura?
As fantasias têm origem em conflitos ou necessidade não atendida. Em algum ponto no desenvolvimento da sexualidade, na adolescência ou na juventude, erotizamos esses conflitos para transformar a dor dessas experiências em algo prazeroso. Assim como o corpo tem um sistema imune que age quando estamos feridos, a mente usa as fantasias para curar a dor. Quando compreendemos qual o conflito por trás dos desejos sexuais, podemos usá-los para a cura e criar relações afetivas nas quais concretizamos esses desejos.
Se você era muito criticado na família e erotizou sentimentos ligados a isso, transporta isso para seus desejos como forma de ter controle sobre essas experiências. Porque no sexo você pede para ter esses sentimentos ou os relaciona ao prazer.
Se você pode direcionar esses sentimentos que já foram dolorosos a um parceiro que os concretiza, você se cura -com alguém que não o critica, mas te respeita e te permite representar a fantasia do conflito.
Há alguma pesquisa científica sobre essas fantasias?
Não há pesquisa formal. Os temas vêm de anos de conversas com meus pacientes sobre a vida erótica deles e suas histórias familiares. Percebi o pouco que as pessoas entendiam sobre esse assunto. Alguns não eram sexualmente compatíveis com os parceiros, mas não entendiam o que os tornava incompatíveis.
Quando sabiam a razão da incompatibilidade, muitos ficavam com vergonha, por causa dos tabus sociais. Muitos psicólogos acreditam que erotizamos conflitos como forma de transformar a dor em prazer. É algo bem descrito, especialmente na psicanálise. Mas há uma tendência em transformar as fantasias em patologia. Para mim, elas são formas que a mente tem de se reconciliar com os conflitos.
Como o conflito se revela na fantasia?
A primeira coisa que precisamos entender é a essência das fantasias, o que nos faz chegar ao orgasmo, quais são os pensamentos, as imagens. Por exemplo, se o que nos excita é a humilhação, provavelmente o que está em jogo é uma culpa, uma vergonha, uma sensação geral de inutilidade. Quando entendemos o esquema, recuamos às nossas histórias de vida e vemos que experiências na infância também levaram a sentimentos parecidos. As fantasias se tornam uma janela para a nossa psique.
Mas as associações entre fantasia e conflito que o sr. faz no livro são assim automáticas?
São generalizações e podem ser relativizadas. Funcionam mais para levar a pessoa a refletir sobre o que cada elemento significa para ela. Tatuagem significa sexo selvagem para um e independência para outro. E, em geral, o que leva ao orgasmo é mais o que pensamos do que a interação sexual. O senso comum privilegia o aspecto físico, mas é bem mais complexo. É físico e mente, é pensamento e imagens.
Um comentário:
Super interessante, Sá. Gostei.
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