Tentei marcar com uma amiga vinda de Santos. Mas ela não chegou, sentei sozinha num banquinho plástico, bar da Melo Alves, esperando uma mesa.
Como um cliché de escritora, peguei meu caderninho e anotei minhas bobagens:
"Entendo que ela achasse aquilo tudo estranho. Pessoas são estranhas quando a gente não conhece, a maioria tanto que não gostaríamos de conhecer. Quem é a mulher de ombros curvados, andando como homem, ao lado da garota magríssima de cintura baixa demais, costelas compridas demais?"
Finalmente o garçom liberou a mesa: justamente ao lado das distintas anotadas no meu caderno. Quatro amigas cansadas de seu grupo em que todas haviam transado com todas, ninguém se apaixonava, ninguém deixava o grupo. Situação clássica do lesbianismo, ok, mas lembrei do Veríssimo: Poker Interminável I, II, III.
Ouvi a conversa. Teria pudor de anotar, não fossem pérolas do lugar-comum DR.
"A Débora está na minha vida há catorze anos."
"Foi uma desorientação que bateu."
"Uma pessoa que fala: eu tenho um padrão."
"Quando a gente era novinha..."
"Eu assumi o erro que eu fiz."
"A gente tá perdendo os valores, sabe."
"Se eu tiver uma namorada, vou deixar trancada no quarto."
"Quando eu soube da história, eu disse 'vem cá'."
"Conhecer gente nova... que não queime a turma."
"Ela tem que trabalhar isso."
"Cada relação é de um jeito, de repente a gente nem sabe."
"Meu querido, você tem mostarda, por favor?"
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