Uma última palavra sobre a vida amorosa de nosso personagem, esta sim alusiva a certa peculiaridade de Fernão. Refiro-me a seu hábito de dizer as palavras da consagração na boca das mulheres durante o ato sexual, Hoc est enim corpus meum, expressão por meio da qual a Igreja ritualizava a presença do corpo de Cristo na hóstia (aqui está o meu corpo).
Disse peculiaridade de Fernão porque, na verdade, este era um costume muito difundido entre as mulheres, sendo raro entre os homens, inscrito no universo mágico-erótico das "cartas de tocar", das beberagens afrodisíacas, das orações amatórias, das mezinhas e filtros que as mulheres soíam utilizar para arranjar ou amansar maridos. As palavras da Sacra possuíam exatamente, segundo se acreditava na época, este poder de "prender a criatura desejada", "fazê-la cumprir a vontade de quem as proferia" e, sobretudo, de evitar maus-tratos.
(A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial, Ronaldo Vainfas, Cia das Letras, 1995)
Um comentário:
Será que elas não sabiam que os maus-tratos podiam ser bons?
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