sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Students More Likely to Think Gay Professors Biased


"For the study, researchers presented an ethnically diverse group of 545 undergraduates at the University of Houston-Downtown with a course syllabus for a class called "Psychology of Human Sexuality." The only difference in the syllabus presented to different students was that one version featured a professor whose brief autobiographical statement indicated being gay, and the other version featured an autobiographical statement identifying the professor as straight.
The students were then asked to evaluate the professors (based only on the syllabus review) on various factors, one of which was political bias. On average, the students found the syllabus to suggest a political agenda when the instructor was gay, but no agenda when the instructor was straight."


http://www.theatlanticwire.com/national/2011/06/students-think-gay-professors-are-more-biased/39425/

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Documentos estáveis


"Tinha um grupo de três machonas na minha escola, quando fiz a oitava série. Passavam o intervalo no canto da quadra, em pé, encostadas à parede, conversando entre elas. Mudei de escola no colegial e demorei  reconhecer os novos grupos. Fiquei amiga de uma garota que raspava o cabelo e usava coturnos. Fora da escola ela tinha amigos sempre de preto, com os mesmos coturnos de sola gasta. Fui com eles em alguns shows punk, mas havia quase só homens, as meninas não ficava entre elas. Não havia grupos gays na minha escola. Dois garotos afeminados andavam isolados e eram meio reativos, esnobavam com alguma agressividade as gozações dos outros. Aos poucos consegui conversar com eles, que me contaram sobre os bares em São Paulo. Segundo eles, nada valia a pena em Osasco. Fui amiga desses garotos enquanto permaneci na escola, mas sem intimidade. Eram fúteis e debochados, corporais demais em suas referências masculinas, que aprendi a reconhecer mas não conseguia admirar. No cursinho conheci o Marcos, que se tornou quase um irmão, e através dele a primeira garota lésbica com quem pude conversar e sair. Não éramos apaixonadas, mas durante dois anos funcionou nosso acordo de carícias ocasionais. Ela morava do outro lado da rodovia Castelo Branco e algumas vezes dormia em minha casa. Meus pais concordavam, as ruas são perigosas à noite.

Para conhecer mulheres é preciso certa coragem, é o que se aprende no começo da carreira. Coragem para se aproximar e tomar a iniciativa, e casca grossa para negativas. Eu não gostava das frases de efeito e elogios baratos de aproximação, mas precisei praticar alguns, encontrar aqueles que menos agredissem minhas necessidades de honestidade e elegância. Eu pensava que, se fosse homem, seria um dândi. Estaria sempre no limite indefinido entre o masculino e o feminino, e não poderia nunca agir como a caminhoneira clássica. Eu gostava de gays. Preferia homens femininos a mulheres masculinas.  

Alugar um apartamento foi menos difícil do que eu previa. O mundo responde bem a documentos estáveis: contracheque, declaração de imposto de renda, comprovante de  rendimentos do fiador e a respectiva matrícula no registro de imóveis. Foram duas semanas para os trâmites do contrato e recebi as chaves, quarenta dias depois de deixar Agnes. Eu não tinha móveis, mas meu pai conseguiu quase tudo nos depósitos que frequentava. Fez algumas trocas, substituiu as peças envelhecidas e instalou tudo para mim. Ele conhecia as madeiras de qualidade. Comprei novos apenas os eletrodomésticos da linha branca: geladeira, micro-ondas e máquina de lavar. Aproveitamos um fogão usado que o pai ainda guardava na oficina. Quando tudo estava montado, olhei aquele apartamento inteiro que agora era meu, e senti certo orgulho por ver organizado o novo espaço a partir de quase nada. Era janeiro de 2005, eu ainda estava de férias. Patrícia e Heloísa viajaram em seguida para Ilhabela. Elas ficaram em São Paulo nas primeiras semanas do ano apenas para me ajudar, esperando para assinar o contrato com a imobiliária. Liguei para Melissa pouco antes do Natal. Contei que estava me separando, e por isso não telefonara antes.

- Então, quer marcar alguma coisa? - ela perguntou.
- Não sei se dou conta. Não estou muito bem ainda.
- Dá conta de quê?

Foi tão despachada que eu ri, uma das poucas risadas naquelas semanas.

- Você acha que vou te agarrar contra a vontade ou alguma coisa assim?
- Até que não seria mau - respondi.

Marcamos para o dia seguinte num bar que ela sugeriu. Mas nesse encontro houve certa timidez. Eu não podia beber muito porque ainda estava o sítio de Heloísa em São Lourenço da Serra."

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Cassandra Rios, "Eu sou uma lésbica"

"Naquele tempo, as mulheres aproveitavam o carnaval para usar suas calças compridas, camisas, gravatas, caracterizando-se de homem para serem melhor identificadas pelas outras mulheres, as "passivas". O carnaval nos clubes marcava momentos grandiosos na vida das lésbicas, que se fantasiavam de Zorro, de caubói, usavam máscaras, cortavam os cabelos rente na nuca, riscavam bigodes com lápis de sobrancelhas e até costeletas. Era a liberdade. (...) A orquestra atacava os sambas e marchas, as serpentinas riscavam o ar, confetes atapetavam o chão, e as lésbicas confinavam-se no toalete. E para lá iam, atraídas, as que tinham tendências para eclodir durante os três maravilhosos dias festivos. (...)

Eu sabia da fama do Arakan, dos bailes nos salões do aeroporto, e fui para lá com um grupo da faculdade. (...)

Eu as vi chegando [as machonas], ressabiadas, como que disfarçadamente, de braço com homens, subindo as escadas que conduziam aos salões do aeroporto; de braço com bichas, para tentarem passar pela portaria. O comentário de que seria proibida a entrada de homossexuais no Arakan já se espalhara havia meses.

Eu já atravessara a porta e vi o homem descer correndo em direção ao grupo que entregava ao porteiro os ingressos, gritando, neurastênico, brecando a entrada delas:

- Não deixe entrar, devolva os ingressos, devolva o dinheiro; "paraíbas" aqui não entram.

(...) Meu carnaval estava estragado. Virou quaresma. O espetáculo era triste demais para mim. A bicha, gritando com a sua voz esganiçada coisas que eu nunca ouvira antes, sendo posta para fora; a machona, carregada pelos guardas escada abaixo.

(...)

Meti-me sob o palanque e fiquei assistindo ao desfile. Observei e tomei nota de todos os movimentos do grupo. A "rainha" a todo instante debruçava-se para Manville, que lhe dava tapinhas no rosto, nas mãos, nos ombros, assegurando-lhe que o reinado seria seu, ele estava ali para garantir. Todos percebiam a mamata, o concurso era uma fajutagem.

- São todas da viração. Vêm das boates Lalicorne, Big Holliday, La Vie en Rose... todas com os os seus "coronéis". Depois, elas vão ao toalete e a gente papa uma por uma.

Ouvi e nem fiz questão de saber quem estava falando; nem mesmo procurei saber quem eram elas e por que não levavam outro tipo de vida. (...) Ouvi risadas, cochichos, desmentidos, desacatos, desafios e brigas entre casaizinhos de lésbicas ciumentas."

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Cassandra Rios, "Eu sou uma lésbica", pp. 95-101. Azougue Editorial, 2006.

Publicado originalmente como folhetim na revista "Status", em 1980.


Bailes de Carnaval no Arakan

"A primeira vez que fui neste baile de carnaval foi em 1974, penúltimo ano que foi realizado no Aeroporto de Congonhas, na parte de cima do saguão. Para os padrões de hoje o que vou contar é irrelevante, mas para nós da época não!

Como já sabemos, existe uma escada que sobe em curva para o saguão, daquelas em estilo clássico.

Eu e um amigo ficamos "plantados" na parte de baixo da escada para vermos as mulheres subirem a escada. O eleitorado era variado, composto de mulheres do taxi-girl Avenida Danças, que eu conhecia, das boates, do Mappin Praça Ramos de Azevedo, dentre tantas outras.

E elas quando chegavam perto da escada subiam somente de colãs. E invariavelmente pretos. Ah, era diferente, convenhamos.


(...)

E como tinha coisas que eu ainda não conhecia resolvi conversar com uma mulher de cabelos curtos e rosto pintado de preto. Ora, nem de longe podia imaginar que ela era chegada em mulher. Aprendi no Arakan.

O baile acabava as 05h da matina.

E como valia a pena ir no Arakan.

Em 1976 foi realizado no Clube Homs da Avenida Paulista e depois transferiu-se para a Casa de Portugal na Avenida Liberdade."


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Por Gilberto Maluf - azermaluf@yahoo.com.br



http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=3520